segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quando não se sabe o que se diz.

No seu site pessoal, Luis Freitas Lobo, um dos mais reputados comentadores da actualidade diz o seguinte em relação a Nolito:

"Tenho dificuldade em vê-lo como titular indiscutível num Benfica tacticamente a top."

Na continuação do texto, LFL continua a comparação entre Nolito e bruno César e diz:

"a Nolito vejo-o como um agitador e…ponto. Pode fazer mais facilmente a diferença numa jogada (repentismo e finta). Bruno César pode fazer mais a diferença num jogo (posse e posicionamento).

Apesar de ainda ser precoce fazer um veredicto final sobre Nolito, as primeiras impressões são extremamente positivas. Os números falam por si: 4 golos no campeonato, 2 assistencias, em 4 jogos. Mas no futebol, nem tudo são números.

E é por isso que Nolito impressiona ainda mais.

Se LFL tem dificuldade em ver Nolito como titular num enfica tacticamente de Top, então:

1: Ou LFL não conhece Nolito.
2: Ou LFL não conhece Nolito.

Ao contrário do que muitos podem pensar, Nolito é tacticamente muito inteligente. A prova disso é a forma como intervém no jogo. Realizando ropturas, aparecendo no espaço vazio, dando uma enorme dinâmica, mas sobretudo verticalidade e velocidade nas transições.

Bruno César por seu lado é um jogador mais posicional é certo, que joga tendencialmente em regiões mais interiores. Mais cerebral efectivamente.

O erro de LFL é considerar que por Nolito não primar a posse em detrimento de uma acção de 1x1, passa a ser mau tacticamente. A realidade é que (e respeitando as dimensões) Nolito está para Pedro Rodriguez como Bruno César poderá estar para Iniesta.

Não é concebível uma equipa com 5 Bruno Césares ou com 5 Nolitos. A realidade é que uma equipa precisa do equilibrio entre as caracteristicas de ambos os jogadores. Uma equipa capaz de aliar uma boa posse de bola em ataque posicional e simultaneamente capaz de conferir verticalidade ás acções ofensivas através de ropturas, seja no 1x1 ou em 2x1 ou em desmarcações é uma equipa Tacticamente de top.

Nolito tem nestes jogos emprestado à equipa a verticalidade que emprestava Di Maria em 2009/2010.

Por outro lado, Nolito nesta altura é muito mais titular que Bruno César, pois já vem adaptado ao futebol europeu.
Nolito terá certamente de melhorar vários aspectos do seu jogo, nomeadamente no seu posicionamento defensivo, como por exemplo no pressing. Pressionar de forma anarquica não é aceitável a este nível.

Não sendo um prodígio, Nolito complementa muito a actual equipa do Benfica.
E é a complementaridade entre as caracteristicas dos jogadores que estão na base de uma equipa tacticamente evoluida.

domingo, 4 de julho de 2010

Inteligencia VS técnica/energia

Ouço e leio todos os dias comentários e opiniões sobre o futebol. Independentemente da sua validade, muitas delas partilham de um denominador comum, ou seja, são opiniões que se caracterizam por uma excessiva valorização dos aspectos energético-funcionais. Com isto quero dizer que os experts da comunicação social referem-se a um jogador, como forte, alto, com garra, explosivo, um prodígio de técnica, habilidoso, forte no 1x1...
Este tipo repetido de comentários faz-me lamentar que essas figuras não vejam jogos do Barcelona e da selecção espanhola.
Primeiro, o futebol é um jogo que pertence ao grupo dos jogos desportivos colectivos. Dhu!! Ou seja, exige interacção entre os seus elementos. Essa interacção, na minha perspectiva, manifesta-se de diversas formas, mas está sempre dependente da inteligência dos jogadores em termos individuais. Por inteligência, entendo um conceito abrangente, onde cabem conceitos mais específicos como cultura táctica, criatividade, capacidade de decisão,  sentido posicional, imprevisibilidade, entre outros. Aquilo que pretendo evidenciar é que muito mais do que os aspectos físicos e técnicos de um jogador, os aspectos tácticos são consideravelmente mais importantes. É certo que se impõe sempre uma determinada proporção entre os 3 elementos (físico, técnico e táctico), mas não tenho a mínima dúvida de que, independentemente da posição que o jogador ocupa, a vertente técnica é largamente mais importante do que as restantes. E é precisamente a inteligência de um jogador que lhe permite, independentemente das circunstâncias, apresentar-se ao seu melhor nível e marcar a diferença.
Jogadores cujas características são fundamentalmente energético funcionais, foram eclipsados neste mundial; Ronaldo, Rooney, Danny, Robinho, Ribery, Di Maria. Fazendo uso dos seus atributos físicos e técnicos, estes jogadores são e foram facilmente anulados. Porém, jogadores que se notabilizam pela inteligência, como Xavi, Iniesta, Honda, Sneijder, Ozil, são os jogadores que se notabilizam e se evidenciaram perante os outros pela inteligência futebolística que demonstram.
Entre o momento de percepção de uma situação de jogo e a execução de uma acção técnica existe um "espaço" onde o jogador avalia e decide...residindo aí, a sua inteligência. É por isso que concebo o futebol como um jogo de intelígência, onde as componentes física e técnica são, para mim, secundárias na sua importância.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Compêndio de como defender mal

O jogo de futebol entre a Alemanha e a Inglaterra pode ser alvo de muitas análises. Mas para mim, muito sinteticamente foi uma equipa eficiente, de processos simples (Alemanha), em oposição a uma equipa que foi vítima de erros defensivos, quer colectivos quer individuais. Não quero com isto dizer que a Inglaterra em momento algum mostrou poder ganhar o jogo. Foi efectivamente uma equipa estéril, sem ideias, sem processos bem definidos. Porém... Os golos sofridos pela Inglaterra, são absolutamente intoleráveis e inaceitáveis quando estamos a falar de alta competição a este nível.

O 1º golo é quanto a mim inconcebível. Nasce de um pontapé de baliza, o que é coisa rara, entre outras razões, porque nestes lances, os defesas encaram a bola de frente e os avançados estão de costas para a baliza. Não é por norma um lance que se configure habitualmente como uma situação de perigo. No momento em que Neuer bate o pontapé de baliza, existem erros de posicionamento da defesa inglesa. Em primeiro lugar, Terry, Cole e Upson estão posicionados tendo como referências os jogadores germânicos, Klose, Oezil e Mueller. Cria-se consequentemente um espaço tremendo entre Glen Johnson e John Terry. Marcar hxh nesta situação parece-me um erro crasso. Passo a explicar. Na situação do golo, Terry parece cometer um erro em termos de cálculo onde a bola iria cair. Então, numa fase inicial, move-se para a frente, afastando-se da sua baliza. Quando percebe que a bola vai cair muito atrás de si, naquela que deveria ser a sua zona defensiva, Terry tenta recuar, mas nessa altura, é apanhado em contra-pé e fica completamente fora da jogada. O facto da marcação ser hxh, reflectiu-se no facto de um erro individual, ter criado uma situação muito difícil de resolver e comprometer todo o processo defensivo, entre outras razões pelo facto facto de ser muito difícil efectuarem-se compensações/dobras. Depois disso, Upson tenta compensar Terry, tentando ganhar a posição a Klose, mas perdendo em velocidade. Glen Johnson, está completamente fora da jogada, em virtude de estar a "milhas" de Terry. Por outro lado, David James aborda o lance de forma estranha. Quando se empunha que tentasse fazer a mancha, opta por uma postura mais expectante, mesmo quando Klose estava em manifesto desequilíbrio, como comprovam as circunstâncias em que foi efectuado o remate, ou seja, já em queda. Este golo é uma cascata de erros, quer colectivos, quer individuais.


Repare-se na marcação hxh de Terry, na distância tremenda entre Terry e o lateral direito Glen Johnson. Mérito para a colocação dos dois jogadores germânicos. A partir desta altura, sucedem-se uma série de erros defensivos.

O 2º golo da Alemanha, em boa verdade, contém muito mais mérito que o primeiro. Inicia-se num lançamento de linha lateral a favor de Inglaterra. Porém, pelo facto de existir uma pressão alta por parte da Alemanha, Upson (com poucos recursos técnicos) opta pelo alívio. Mertsacker recupera a bola. Joga curto em Lham que está encostado à linha. Lham devolve a Khedira. Khedira combina com Mueller, que joga ao primeiro toque com Oezil. Este por sua vez joga com Klose que de primeira coloca a bola no espaço, nas costas da defesa, onde vindo de trás surge Mueller. Mueller assiste por fim Podolski, que entretanto surge na esquerda, e este sem oposição remata para golo. Há que referir que é, quanto a mim, uma extraordinária jogada de ataque. É uma sucessão de triangulações, executadas em profundidade, procurando a progressão. Tudo é feito praticamente ao primeiro toque e sempre procurando um futebol baseado em apoios curtos. Tudo se resume a processo de transição ofensiva muito rápido, que origina uma situação de golo que foi aproveitada exemplarmente por Podolski.
Porém, mais uma vez o colectivo inglês deixa muito a desejar em termos defensivos. Em primeiro lugar, apesar de estar em processo defensivo, a equipa inglesa, levando à letra o seu 4x4x2, posiciona-se literalmente em 3 linhas. Por si só, isto não constitui um erro de posicionamento. Ou não constituiria, se a distância entre essas linhas fosse bastante grande, seguramente mais de 40 metros. Este posicionamento, com a equipa muito estendida verticalmente no campo oferece ao adversário muito espaço entre linhas. Este espaço é ainda mais exagerado, tendo em conta o facto de os jogadores e ingleses se posicionarem em 3 linhas, o que impede uma ocupação racional do espaço. Gareth Barry e Lampard, os dois médios do eixo central, estão praticamente alinhados, existindo um espaço enorme nas suas costas.
Um outro aspecto deste lance é a atitude defensiva dos defesas ingleses. Num primeiro momento, Ashley Cole pressiona Mueller, deixando Klose liberto. Upson, tenta então fazer a cobertura defensiva, aproximando-se de Klose. Entretanto, Terry pressiona Oezil. Neste momento, existe um espaço enorme nas costas dos 2 centrais ingleses. Apesar do lance ocorrer no meio campo defensivo inglês, a participação na jogada dos médios centro ingleses Berry e Lampard é nula, o que demonstra a falta de solidariedade defensiva da equipa. Entretanto, novamente uma distância de "milhas" entre Glen Johnson e Terry. Numa fase posterior do lance, Glen Johnson tenta dobrar Terry, mas por estar demasiado longe, está muito atrasado, e quando flecte para dentro, abre novamente espaço na esquerda (para quem ataca), onde surge Podolski. Milner, médio direito, não recua. Tendo em conta os jogadores ingleses que procuram defender, e os alemães que procuram atacar, trata-se quase de uma situação de igualdade numérica. De realçar duas características do comportamento defensivo inglês. As acções de pressing são individuais e não são acompanhadas por movimentações colectivas dos restantes elementos. Por outro lado, uma total incapacidade para ocupar racionalmente o espaço. Uma linha de meio campo extremamente permeável, com ausência de uma referência de pivot defensivo, capaz de equilibrar a equipa. Ainda assim, muito mérito para a Alemanha.

O 3ºe 4º golo da Main Shaft, são jogadas de contra ataque de livro. Ocorrem 2-3 passes longos, com a equipa inglesa em claro desequilibro defensivo e quando já se encontrava balanceada no ataque.
No terceiro golo, existe um livre a favor de Inglaterra perto da grande área germânica. O livro é cobrado, a bola bate na barreira e acaba por sobrar para Barry, que não conseguindo dominar a bola é desarmado. Imediatamente a equipa Alemanha demonstra uma capacidade de cumprir de forma exímia os princípios de jogo. Os jogadores procuram imediatamente dar largura e profundidade, criando com facilidade espaço. Tudo isto é feito com bastante velocidade. Cada jogador alemão parece saber qual é a sua função no colectivo e comunicam extraordinariamente bem, através das movimentações que efectuam e não através de gestos e gritos, como pareceu acontecer com a selecção britânica.
Quando é feita a recuperação de bola, esta é imediatamente lançada por Boateng em profundidade para Mueller. Este joga para Podolski, num passe em profundidade para o flanco oposto. Entretanto, Muller abre ainda mais na direita. Oezil surge no meio, ocorrendo nesta altura uma igualdade numérica, situação por norma, sempre mais favorável ao ataque. Podolski, entretanto, flecte para o interior, devolve a Mueller que disfere o remate vitorioso. Apesar de ser uma jogada muito rápida, feita em 3 passes apenas, na minha opinião, a determinada altura ocorre um erro individual/colectivo na selecção inglesa. Quando a bola é colocada no espaço, para a corrida de Podolski, A.Cole, comete quanto a mim um erro. Em vez de procurar pressionar Podolski, tentando força-lo através da sua movimentação a flectir para o exterior, forçando uma contemporização, A. Cole, recua, acompanhando a jogada, mas flectindo para dentro. Isto fez com que Podolski nunca tivesse necessidade nem de temporizar, nem tivesse entre si e a baliza qualquer jogador inglês. A movimentação a que me refiro, seria a mais correcta, até porque Glen Johnson que procurava recuperar, dirigia-se para o meio, no sentido de compensar a movimentação previsível de A.Cole, que nunca aconteceu.
O remate de Mueller, mais uma vez, encontrou fraca oposição em David James.


A azul estão as movimentações que ocorreram. A preto estão as movimentações que deveriam ocorrer. Ao não aproximar-se do corredor esquerdo (para quem ataca), A.Cole, concede o lado interior a Podolski, desrespeitando um princípio defensivo individual, que é o de dar o lado de fora em vez do lado de dentro.

Em relação ao 4º golo, já com a equipa inglesa psicologicamente e fisicamente muito desgastada, apenas merece comentário o seguinte. A facilidade com que Oezil ultrapassa em velocidade Barry é inconcebível. Não tanto pelo facto de ser ultrapassado em si, como foi Upson no 1º golo, mas pela facilidade com que foi ultrapassado. Barry não só se mostrou ineficaz, como displicente, não esboçando qualquer atitude no sentido de desarmar Oezil.

Em suma, quero apenas dizer o seguinte: em algum momento do jogo, a selecção inglesa mostrou argumentos ofensivos para derrotar esta selecção da Alemanha. Porém, ainda que esta selecção inglesa fosse extremamente eficaz e eficiente em termos de processos ofensivos, tenho sérias dúvidas de que seria alguma vez capaz de ganhar jogo. Nem o ataque demolidor do Barcelona, equipa que considero um modelo em termos de futebol ofensivo, seria capaz de ganhar jogos, se mostrasse uma postura defensiva semelhante à selecção inglesa.
Confesso que tenho alguma dificuldade em compreender como aconteceu esta hecatombe. Primeiro porque nos seus clubes, os jogadores ingleses mostram comportamentos tacticamente evoluídos e lógicos. Segundo, porque no DNA das equipas de Capelo está uma organização defensiva bastante rigorosa. Porém, em momento algum do mundial esta selecção me pareceu ter ideias claras, bem definidas e um modelo de jogo concreto. Vi sempre jogadores, em quase total anarquia táctica. O resultado espelha bem essa anarquia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Selecção Nacional

Apesar deste blog surgir em pleno campeonato do mundo de futebol, há já muito tempo que tem vindo a ser pensado. Ainda que exista uma infinidade de temas sobre os quais valeria a pena falar, a exibição da selecção impeliu-me fortemente a escrever algo sobre o seguinte tema: MODELO DE JOGO.

Ao contrário do que apregoam esses arautos do futebol, peritos, experts e outros demais, MODELO DE JOGO, pouco tem a ver com sistemas tácticos ou com a disposição dos jogadores no terreno segundo uma determinada configuração geométrica. O Modelo é muito mais do que isso. Eu atrever-me-ia a cair no exagero de afirmar que o MODELO DE JOGO é tudo, o mais importante, imprescindível.

O Modelo de Jogo é um conjunto de ideias que se assumem como princípios orientadores do comportamento dos jogadores em termos colectivos e individuais. Deste modo, os princípios em que assenta o Modelo de Jogo, orientarão o comportamento dos jogadores da equipa, ajudando cada indivíduo a decidir "bem" em função de orientações gerais que permitirão, em última análise, a expressão de uma "forma de jogar" da equipa.

A este respeito, impõe-se fazer um comentário ao modelo de jogo que a seleção nacional vem exibindo, o qual considero ser negativo em vários aspectos:

1º: No momento defensivo, a equipa é incapaz de pressionar em bloco médio ou médio/alto. Alías, neste jogo com o Brasil, considero simplesmente não ter havido pressing, pois não vi, em momento algum, uma atitude colectiva articulada no sentido de recuperar a bola. A recuperação da posse de bola ocorria quando os jogadores brasileiros tentavam movimentos de penetração nos últimos 20/25m do campo, ou seja, claramente no espaço defensivo de Portugal. Se é verdade que pressionar alto não significa ganhar jogos, não pressionar é, a meu ver, virar as costas à possibilidade de vitória.

2º: Enorme dificuldade em realizar transição defesa-ataque. Recorre-se por isso muitas vezes ao passe longo, tentando ataques rápidos em detrimento do ataque posicional. Aliás, neste capítulo, ocorre-me dizer que tenho sérias dúvidas sobre a capacidade desta seleção para jogar em ataque posicional contra adversários de top. Uma vez que o ataque posicional é algo acessório para o mister Queiróz, ver mais do que 4 jogadores de Portugal envolvidos num ataque da equipa é quase um milagre.

3º: Observa-se falta de largura e profundidade na equipa. Há por isso, uma quantidade reduzida de cruzamentos efectuados para a grande área a partir da linha de fundo.

Estas são para mim as 3 características principais que definem o modelo de jogo da seleção. Sendo assim, este é um modelo, quanto a mim, pouco evoluído, pouco produtivo e incapaz de produzir um futebol atraente.
Queiróz pensa pequeno. Eventualmente, para muitos, chegar aos oitavos é já um grande feito. Para mim, como Português, era o mínimo exigível. Depois de ver selecções como o Japão, Coreia do Sul ou Eslováquia chegar aos oitavos de final, apetece-me dizer que estamos entre os favoritos.

Eu não prevejo sucesso para a selecção. Na base desta opinião está o modelo de jogo adoptado, que se resume como estéril. Eventualmente os interpretes não serão os melhores.

Ainda assim, muito mais poderia ser feito.
Esta "Nau" (selecção) "ainda não meteu água" (não sofreu golos), mas dúvido que chegue a bom porto.